sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Toni Vieira, o patrão do Operário

Antonio Cesário Vieira da Cunha é formado em Geografia pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), está no Operário F.C. há 17 anos entre idas e vindas. Presidente do clube desde 2006 ele é uma das figuras mais polêmicas do cenário esportivo de Mato Grosso do Sul. Em entrevista exclusiva para o Sport Club UFMS ele fala sobre sua história com o clube, seus problemas com antigos dirigentes e dispara contra a torcida organizada que, segundo ele, não ajudou o clube em horas de sufoco.

Sport Club UFMS: Como começou a sua relação profissional com o Operário F.C.?
Toni: Desde 1992 eu trabalhava para ajudar o Operário. Mas quando alguns presidentes eram eleitos no clube, como o Aloízio Borges, eu me afastava, por não conseguir trabalhar com eles. Mas sempre tentei ajudar o clube, mesmo que indiretamente. De 1996 até o início de 2000 eu trabalhei como representante da empresa de bebidas energéticas Gatorade. Foi quando no final de 1998, o Aloízio Borges resolveu abandonar o clube. Simplesmente saiu da presidência e deixou a chave com o guarda da sede. Então entrou em seu lugar o Dr. Ezacheu, e ele me chamou para participar do Conselho do Operário. Entrei definitivamente no clube em 1999.
Sport Club UFMS: Dos anos de 1999 até hoje, o que você acompanhou na administração do clube?
Toni: Em 1999 o Dr. Ezacheu assumiu a presidência, eu entrei no Conselho. Logo em seguida assumi o cargo de divisão de base. Em 1999, a gente trabalhou muito forte nas categorias sub-20 e revelamos muitos jogadores, como o Edmilson, o goleiro Marcão e o Zé Augusto. Mas, no final de 1999, algumas pessoas sugeriram a criação de uma empresa paralela ao clube, o que era muito comum na época. Mas o Operário não tinha condições de se tornar uma empresa porque tinha muitas dívidas... Porém ninguém se importou com isso e criaram a Operário SA. Até 2000 o Dr. Ezacheu continuou na presidência tanto do Operário F.C. como da empresa Operário SA. Mas ele teve que sair nesta época, para atender um chamado do falecido senador Ramez Tebet, então, o Aloizio Borges retornou ao clube e eu me afastei, fiquei fora do Operário até agosto de 2002. Durante esse período, tudo o que a gente tinha construído na parte jurídica, documentária e na parte de convênios foi jogado fora.
Spot Club UFMS: O que aconteceu com o clube no período em que você se afastou?
Toni: O Aloízio Borges, o Roberto Wolf e o Sidnei de Melo, fecharam a divisão de base que havia sido criada em 2000 e era comandada pelo Cocada, pelo Dinei e pelo professor Doca. Inclusive nessa divisão de base que eles fecharam, um dos atletas é o Jean, que hoje joga no São Paulo F.C.. Nessa época eu estava trabalhando no time do Coxim, e na metade do ano de 2002, o Seu Mario Mendonça, me ligou várias vezes, para buscar reativar o clube, então eu voltei com a intenção de ajudar. Como o Aloízio Borges não queria sair, foi feita uma eleição, e quem ficou na presidência foi o Roberto Wolf. Eu assumi o cargo de marketing pra buscar material pro clube, o seu Jean Carlos assumiu o departamento de finanças, e o Baianinho de Diretor de Futebol. Nós montamos uma estrutura de atletas pra categoria sub-20, pra gente dar um suporte profissional. Aí nós fomos campeões do estadual no sub-20. Aí essa mesma base foi para o estadual de 2003. Até então como presidente, o Roberto Wolf estava nos ajudando, nós conquistamos o campeonato sub-20, e conseguimos patrocínio da Casa da Indústria, onde o Wolf era Superintendente. Estávamos com o time pronto para ser apresentado em janeiro de 2003 e o Wolf armou uma confusão: mandou dispensar o pessoal porque ele não tinha conseguido patrocínio. Então eu comecei a brigar com ele. Fiquei sozinho porque ele decidiu tirar férias, coloquei o time pra treinar com o preparador físico Souza e o Baianinho e tocamos o trabalho. Mas não podíamos ficar com o Roberto Wolf na presidência então, eu reuni o Conselho e pedi a cabeça dele.
Sport Club UFMS: Quem assumiu a presidência com a saída do Roberto Wolf?
Toni: O vereador Robson Martins. Ele conseguia R$10.000,00 com a Prefeitura através de uma associação, pra ajudar a pagar as despesas do clube e, nós, do Conselho, tínhamos a obrigação de arrumar de dois a cinco mil reais por mês. Então nessa época, fechamos o estadual sem dívida nenhuma, pagamos todo mundo. Só não conseguimos nos classificar quando disputamos a série C de 2003 por causa das despesas; na primeira viagem, que era pra Bahia, nós íamos gastar R$ 35.000,00 só pra viajar. Então nós acabamos não classificando. Nós tivemos problemas com o presidente Robson Martins, e pedimos pra ele se afastar do clube, devido à questão da cassação de seu mandato. Nessa época quem estava no governo era o pessoal do Partido dos Trabalhadores (PT), e tivemos que colocar alguém do PT na presidência do clube, porque só assim nós teríamos apoio financeiro. Então foi indicado o seu Ananias Costa e ele assumiu. Mas eu resolvi me afastar de novo porque toda a documentação do clube estava irregular desde a época que o Ezacheu saiu da presidência. Nós ganhávamos os jogos, mas perdíamos os pontos por causa da documentação irregular.
Sport Club UFMS: E como você retornou ao clube?
Toni: O Operário estava na série C do brasileiro de 2005. Quem estava no comando montou uma estrutura com jogadores cariocas e não deu certo. Então o Ananias se afastou, pediu pra sair, e o Roberto Wolf voltou como presidente, mas como ele nunca mexeu com futebol e não sabia o que fazer, ele me convidou para participar. Eu disse que só voltava se eu tivesse uma comissão técnica de minha confiança, com o Baianinho, o Souza e o Neneco. Então eu fiquei no time, dispensamos todos os jogadores do Rio de Janeiro que só davam despesas para o clube e conseguimos bons resultados. Após 15 dias o Roberto Wolf me agradeceu e pediu para que eu saísse. Eu fui embora sem problemas, estava lá pra ajudar, não ganhei nada só gastei por gostar do clube.
Sport Club UFMS: E o que você fez após esse novo afastamento?
Toni: Resolvi fazer uma pesquisa para levantar todas as questões de irregularidade do Operário, tanto do SA como do F.C., mas a empresa SA estava impossível de se resolver porque havia muita coisa não consolidada ali. Aliás, essa empresa foi um atraso na vida do Operário. Outros clubes como o Bahia e o Vitória, que também criaram empresas paralelas, ficaram numa situação terrível, caíram para a série C do campeonato brasileiro. Só que ninguém queria saber da situação irregular do Operário. Preferiam ignorar, assim como um policial deixa você passar numa “blitz”, mesmo que você esteja com documentos irregulares. Então, quando eu estava com a pesquisa pronta chamei o presidente da torcida organizada que eu prefiro não citar o nome aqui, para uma reunião. Apresentei todos os documentos pra ele, que comprovavam as irregularidades do clube, mas ele não quis me ajudar a recuperar o clube, porque achava impossível. Então eu busquei dentro da Universidade apoio dos professores, de advogados, e do Dr. Ezacheu. Fizemos todo o levantamento, organizamos a documentação do clube, e levamos um documento para a Federação, registramos toda a parte documentada, inclusive a reforma estatutária. Então nós fizemos essa adequação no estatuto e tiramos do conselho todas as pessoas que não ajudavam em nada o Operário.
Sport Club UFMS: Quando foi feita a regularização exatamente?
Toni: Em 2005. Fizemos toda a regularização, adequamos ao novo código civil e registramos. Como a Federação do MS não quis tomar as providências, nós fizemos uma denúncia ao Ministério Público Estadual, e notificamos a CBF e a Federação. Enquanto isso nós montamos uma divisão de base e jogamos alguns torneios como as ligas de Campo Grande e a do estado. Jogamos também em São Paulo a Copa Sul-Americana e ficamos em 8° lugar. Como o Operário não tinha mais a sua camisa tradicional, eu consegui fazer novamente o desenho da camisa tradicional do Operário que hoje vocês veem por aí. Então, no final de 2007, o Ministério Público deu um parecer para a Federação e eles tiveram que aceitar que estava tudo irregular, tinha gente que podia até ser presa! O Operário F.C. tomou o seu lugar de volta na Federação e na CBF e voltou a jogar o campeonato estadual sem o nome da empresa SA. Nós tivemos apoio do prefeito que colaborou durante 10 meses com a parcela de R$ 5.000,00 e, com esse recurso “pequenininho”, pagávamos a parte de algumas despesas, mas como o dinheiro era pouco, tivemos que gastar do nosso próprio bolso para salvarmos o clube.
Sport Club UFMS: Qual patrocínio vocês arranjaram depois desse ano de 2007?
Toni: Mandei proposta para as empresas de laticínios, pois era época da descoberta da soda no leite, então essas marcas precisavam manter limpa a sua imagem. Eu mandei para a Parmalat, para a Frimeza, para São Gabriel... Então foram seis ou sete marcas do Brasil. Aí o pessoal da São Gabriel interessou-se, só que eles queriam fazer uma parceria da seguinte forma: eles assumiam o Departamento de futebol e bancavam as despesas. Eu aceite porque nós precisávamos de recursos. Eu sei o que é ter custos no futebol, muita gente me critica, mas não sabe como é difícil manter o salário de 28 pessoas; se você vai fazer uma viagem, são 28 viagens, 28 almoços e 28 jantas! Nossa única exigência foi que o técnico fosse o William Puia. Aí montamos um bom time com o Chocolate, o irmão do Anderson Lima... Fizemos uma boa temporada em 2008.
Sport Club UFMS: E neste ano, o que aconteceu de errado com o Operário? Sobre o rebaixamento, vocês se sentiram prejudicados de alguma forma?
Toni: Para 2009 nós tínhamos todo um planejamento que vinha de nossos bons resultados do ano passado. Fizemos um orçamento e vimos que precisávamos de R$ 60.000,00. Não conseguimos apoio da prefeitura e do governo do estado, então tivemos de jogar com os atletas “pratas da casa” o que não deu muito resultado. Além disso, a tabela do campeonato estadual foi dirigida. O que é uma tabela dirigida? Analise os nossos jogos: nós tivemos que jogar duas vezes fora, enquanto outros times como o Itaporã, que estreou na série A, jogou o primeiro jogo em casa e o segundo jogo, em casa também! Então, com essa tabela nos desfavorecendo, é claro que o time ia mal! A equipe do Rio Verde chegou a jogar três jogos seguidos em casa! E quem faz a tabela é a Federação de Futebol do estado, não tem sorteio nenhum. Sobre o rebaixamento: aconteceu a mesma coisa com o Mixto do Mato Grosso; só que na justiça de lá, o Mixto foi rebaixado porque jogou com atletas irregulares e aqui o Rio Verde não foi. Isso é uma vergonha! No julgamento todos viram que o Operário estava certo, mas mesmo assim, rebaixaram o Operário.
Sport Club UFMS: E sobre o que saiu na imprensa, das dificuldades enfrentadas pelos jogadores do Operário neste ano, que estavam em alojamentos precários e que não recebiam seus salários?
Toni: Que jogadores? Do Operário? Não, nenhum jogador passou por necessidade nenhuma não! O que aconteceu foi o seguinte: empresários mandam jogadores para a equipe dizendo que vão pagar as despesas e não pagam. Então essas despesas não são do clube, são dos responsáveis por esses jogadores.
Sport Club UFMS: Nos últimos jogos do estadual houve diversas manifestações da torcida, com faixas pedindo a ‘cabeça’, falando de uma forma figurativa, tanto sua como do Ezacheu, dizendo que vocês acabaram com o clube. O que você tem a dizer sobre essas manifestações?
Toni: Eu é que pergunto pra vocês: quando foi que a torcida fez algum manifesto quando estava passando um trator lá na sede do Operário, na Bandeirantes? Alguém foi lá ver isso? Entrou na frente, colocou alguma faixa? Eles nunca conversaram comigo, eu tentei fazer uma reunião duas vezes com eles. Eu fiz uma reunião com o presidente da torcida e mais uma pessoa, em 2006 fiz uma reunião com toda a diretoria da torcida organizada e mais algumas pessoas, mas eles não querem saber. Então a gente lamenta porque eles não ajudam em nada, muitas vezes “pulam” para assistir aos jogos, não pagam o ingresso, jogam bombas no campo, se eu não me engano teve um problema com uma bomba lançada em cima de uma bandeirinha acho que ano passado, invadiram o vestiário em Naviraí, quebraram coisas que nós tivemos que pagar, roubaram uniformes, todo o uniforme listrado, parte do uniforme branco... Olha o prejuízo que eles deram. Depois, 2008, ainda no estadual, eu patrocinei as viagens deles, dei ônibus pra eles viajarem, lá em Três Lagoas a gente deu 50 ingressos pra eles assistirem o jogo contar o Misto. Agora pergunto pra você quando realmente precisamos da torcida eles ajudam? Acham que é o máximo 23 caras da torcida organizada xingando os outros, jogando bomba no estádio... Essas atitudes eu não aceito. Sabemos que eles roubaram alguns pôsteres do clube, e colocaram na sede deles, pôsteres antigos do clube, os troféus antigos do clube sumiram... Então eu só lamento.
Sport Club UFMS: Quais são os planos para a próxima temporada?
Toni: Nós estamos trabalhando, conseguimos um investidor, para trabalhar a divisão até 16 anos. Quanto a equipe profissional, dispensamos os jogadores de fora e estamos buscando amistosos.